O RIO PELAS LENTES DO
CINEMA YANKEE
A MAIORIA DOS POLÍTICOS – SE NÃO TODOS DESTA
ÉPOCA CINZENTA EM QUE VIVEMOS
– deveriam invejar o presidente Juscelino Kubitschek. Um político inspirador,
mas que, na visão de muitos – e eu me incluo neste número – deu uma grande
mancada sobre a qual o Brasil nunca mais se recuperou e duvido que um dia vá. A
retirada da capital federal do Rio de Janeiro desguarneceu totalmente a cidade
que, naquela época, era maravilhosa. Em muitos aspectos ela ainda é sem dúvida
nenhuma. O belo Rio inspira! Eu, se não fosse um nobre cearense, do Cedro,
pedia a Deus para nascer carioca. Escrevo esta crônica motivado por uma gostosa
produção do canal Globo News. No programa Arquivo N, feito para os 450 anos da
capital fluminense, a mesma é mostrada pelas lentes do cinema, ao longo dos últimos
80 anos. Em 1929 já havia gente filmando por lá, em plena era do cinema mudo. Sim,
o programa apresenta o Rio pelo olhar da sétima arte, com ênfase hollywoodiana.
Fiquei feliz pelo Brasil apresentar por meio da Guanabara, Corcovado, Pão de
Açúcar, Copacabana Palace Hotel e Cia. Ltda sua então capital, bonita,
elegante, de arquitetura moderna e como locação preferida entre os cineastas
estrangeiros, junto à Nova Iorque e Paris. Gostei mesmo de saber isso e sorri,
me enchendo de orgulho. Como já disse, minha linhagem passa longe daquele canto
do país, mas, enfim, como brasileiro fiquei feliz em saber que há mais de 300
filmes catalogados onde tem o Rio de Janeiro como locação. Quem me informa
sobre isso é o crítico e pesquisador de cinema, Antonio Rodrigues, autor do
livro “O Rio no Cinema”. Mas, aí vem a tristeza para estragar tudo: são
centenas de obras de um tempo que não existe mais. Eram os glamourosos anos 30,
40 e 50. O que diriam Hitchcock,
Cary Grant e Ingrid Bergman ao ver o Brasil, hoje. Tem mais: Orson
Welles, Roger “James Bond” Moore, Jean-Paul Belmondo, o marinheiro Popeye,
Brutus e Olívia Palito, a trupe de Walt Disney, Ginger Rogers e Fred Astaire,
isso só para lembrar alguns que minha curta memória ainda me presenteia. Todos eles
ou filmaram em terras cariocas ou tiveram suas personagens ligadas à cidade. Claro,
o programa fala também do cinema nacional, mas aí o que vêm? Ora, muita bala
com Tropa de Elite, porradas com o incrível Hulk, atropelos com Velozes &
Furiosos e, para salvar a pátria, as ararinhas-azuis do Carlos Saldanha, the last generations de longas filmados
por lá. É Juscelino, o senhor deveria ter deixado a capital federal onde ela
sempre esteve. O Congresso seria mais vigiado – Brasília está tão longe! – os
morros continuariam exalando uma pobreza poética – para dar samba! – e a nossa
elite causaria mais inveja internacional por habitarem a cidade maravilhosa.